quinta-feira, 28 de junho de 2007


Kant: O valor moral de um acto deriva da sua máxima, não das suas consequências

"Cada acção pode ser descrita como uma acção de um certo tipo. Se ajudas alguém, podes pensar nisso como um acto de caridade. Neste caso, podes estar a agir segundo a máxima de que deves ajudar outros. Em alternativa, talvez penses que quando ajudas, isso é uma forma de fazer com que o receptor se sinta em dívida para contigo. Aqui, a máxima da tua acção pode ser a de que deves colocar os outros em dívida para contigo. Para veres que valor moral tem a tua acção, olha para a máxima que tens em mente e que te leva a fazer o que fazes.

A razão pela qual precisamos olhar para os motivos do agente e não para as consequências das acções não é difícil de perceber. Kant descreve um comerciante que nunca engana os seus clientes. A razão é que receia que se os enganar, eles deixem de comprar na sua loja. Kant diz que o comerciante faz o que é correcto, mas não pelas razões correctas. Ele age de acordo com a moralidade, mas não pela moralidade. Kant diz que para descobrir o valor moral de uma acção devemos ver por que razão o agente a realiza; as consequências de uma acção não o revelam.

Se o comerciante age aplicando a máxima «Sê sempre honesto», a sua acção tem valor moral. Se, contudo, a sua acção é o resultado da máxima «Não enganes as pessoas se isso te prejudicar financeiramente», a sua acção é apenas prudencial, não moral. O valor moral deriva dos motivos e os motivos são dados pela máxima que o agente aplica ao decidir o que fazer."

In Elliott Sober, Core Questions in Philosophy, Prentice Hall, Upper Saddle River, 2001, pp. 446-455
Tradução de Álvaro Nunes

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