segunda-feira, 30 de abril de 2007



"Quanto mais local, mais universal."

Quis o meu querido e bom amigo Mário Cabral generosamente atender o pedido que lhe fiz para que escrevesse as primeiras linhas deste blog.
As palavras de Mário Cabral são uma espécie de benção e de farol.
Admiro-o muito por ser uma pessoa extraordinária e um artista extraordinário.
As suas palavras dão-me alegria e confiança para esta viagem em que todos são bem-vindos.

Mário Cabral



Estou certo de que o blog da Judite vai ter um interesse acrescido. Sendo jornalista, a minha amiga tem aquela apetência pela crista da onda, tão característica deste ofício; mas, ao mesmo tempo, desenvolve uma paixão profunda pela História, em concreto a que respeita à colonização das ilhas dos Açores e ao nosso passado comum com os flamengos. Esta ambivalência temporal encontra uma analogia no espaço, visto a Judite viver no centro de Lisboa mas possuir as raízes e a alma na longínqua ilha do Pico, numa aldeia chamada Pontas Negras, que mais parece um presépio franciscano. A Judite já foi uma rebelde, na altura certa; estando agora na idade do meio-dia claro, ainda não chegou à altura certa das cataratas.
Outros bloguistas hão-de juntar um número ainda maior de opostos, acredito. Mas a virtude não está nos antagonismos, por mais encantadores que eles sejam, ao começo. É o tempero que faz o cozinheiro, e a temperança tem relação com o tempero. Ora, Judite Jorge é nome de poetisa e romancista, que são dos cozinheiros mais afamados. Conheço a finura serena do tempero da minha amiga do peito: nunca há sal a mais, nunca há pimenta a mais, nunca há açúcar a mais; nunca falta o sabor do sal, nem o do açúcar, nem o da pimenta. Olhando para os nomes históricos que descobre nas suas pesquisas genealógicas, ela vê pessoas vivas e reais, e não fantasmas, tão concretas e definidas como aquelas que encontra nas matérias jornalísticas. Em contrapartida, o conhecimento doutros séculos equilibra o discurso quanto ao presente que, em muitos casos, revela desconhecer o «Vaidade das vaidades, tudo é vaidade».

Mário Cabral

sábado, 7 de abril de 2007